Ola "poulvo", como diria o popular.Kambami em mais um trecho das ervas, traz agora um pitaco da complexidade que é o trato com as ervas, e no caso aqui o OMI ERÒ ( Água do Segredo).Vale salientar que cada nação, cada casa tem o seu "modo operacional", de acordo com a tradição, com ancestralidade.
A função aqui não é contrapor ou ensinar ninguém a "assentar santo", ou dar "axé a água da roça".É mais um a curiosidade, que também pode ser comparada aos mecanismos já usados nas casas.
Vamos lá e comentários a vontade!
RECEITA DA CASA
Olá manos/as blogueiros e macumbeiros!
Em uma frase Yorùbá se diz: “Ewé njé Oògún, njé Oògún tikò
jé Ewé re í kò pé” (As folhas funcionam, os remédios funcionam, remédio que não
funciona é que tem folha faltando)
Todo mundo gosta de uma receita correto?
Bem como estamos falando em um blog que dá espaço para as
crenças afrodescendentes vamos anotar uma receita básica de toda Ègbé
(sociedade religiosa) que se preze, trata-se do conhecido OMI ERÒ (Água do
segredo).
Baseado na fundamentação dos 16 Omo Odù o básico fica com
apenas 8 ervas e acrescenta-se mais 8 para cada Òrìsà, logo a base sempre está
pronta bastando apenas acrescer para cada caso ou situação as outras 8
restantes.
As ervas que compõe este primeiro ejè da casa podem ser
substituídas por outras na falta de alguma, bastando apenas ter o conhecimento
para saber substituir.
Vamos a lista, preparem suas canetinhas e papel.
EWÉ ÉRÌNDÍNLÓGÚN
Assim como sabemos existir a representação dos quatro
elementos no Igbadù (Cabaça da existência Yorùbá), entendemos isso também em
outras vertentes das religiões africanas. Todas sem exceção trazem sua parte
mística, representativa e atuante na vida dos seus moradores.
Em verdade o simbolismo funciona bem mais na cultura
professada do que em fundamentações descritas.
Minha intenção não é polemizar, desmerecer ou invalidar a
cultura e sim trazer a baila as comparações entre elas e dar imagens
principalmente as ervas.
Não sou nenhum dono de verdades, mas sim transmissor de tudo
aquilo que vivenciei, aprendi de meus mais velhos e amigos da religião que
professo, livros que li, pesquisas que fiz.
Como os Candomblés no Brasil são praticamente uma religião
desenvolvida através da lembrança e da mistura cultural, claro que muito do que
de fato é usado em África nem se pensa em trazer para cá por dois motivos:
- É crime federal a importação de qualquer espécie vegetal
ou animal sem a autorização de órgãos competentes (Salvo o que já veio sem
autorização e se espalhou).
As adaptações das ervas foram passadas principalmente pela
oralidade de informações entre africanos, índios e europeus fazendo com que
adaptassem determinadas ervas que existiam aqui para o mesmo benefício de cura
ou litúrgica que existiam lá.
O sistema Yorùbá que foi o único estudado e repassado no
Brasil por estudiosos e Faculdades do mundo todo levou vantagens em suas
descrições e nomeações.
Logo tudo que estiver no idioma Bantu é nada mais que uma
tentativa (esforço) de não deixá-la morrer, algo mais de MUXIMA, um
reconhecimento da grandeza e a cultura desses outros povos e desse seu
pequenino filho Kambami.
Nossa Umbanda também realiza e tem a disposição seu banho
que recebe o nome de AMACI. (Falarei adiante).
Nas casas de cultura Bantu, Angola/Kongo/Kassange esse nome
é conhecido como KIJAUÁ.
Assim também sua classificação que ficou apenas nas chamadas
folhas quentes (Nsaba Kiatubia) e folhas frias (Nsaba Nototo), além de usarem
um sistema lunar para escolha e colheita das insabas.
Na cultura Yorùbá tudo ficou baseado nos ensinamentos de Ifá
que foram aos poucos sendo passados como instrução aos Candomblés do Brasil
trazendo a estes entendimentos e aprofundamentos aos estudos.
Vale lembrar que as folhas que não tiverem nomes em Bantu ou
não são usadas ou não são de meu conhecimento léxico.
Usarei claro bem mais o conhecimento Yorùbá pela própria
facilidade que existe.
Então temos as definições das ervas na cultura Yorùbá
descritas como:
AKO – ABO = MACHO E FÊMEA
ÒTUN – ÒSÍ = DIREITO E ESQUERDO
GÚN – ÈRÓ = AGITAÇÃO E CALMA
IRE – OSOGBO = POSITIVO E NAGATIVO
Um bom começo é ter o entendimento de que o “banho” da casa
seja algo equilibrado nesse entendimento e que seja preparado em um porrão
(vasilha de barro) que deve estar enterrada até a metade na terra, geralmente
abaixo da árvore de fundamento do terreiro podendo porém, serem retiradas
partes do ejè ewé horas antes e posta em outro porrão na entrada dos banhos
internos do povo do santo.
Essa poção que é retirada para o uso não deve permanecer
após o sirè(gira, Kizomba). Sua finalidade é apenas a de facilitar a preparação
dos médiuns do terreiro. Local de Omi Erò é fora e enterrado. Tapado com tela
para evitar proliferação de insetos.
Algumas casas ainda mantém seus espaços nativos, respeitando
as matas ciliares que dão o acesso as águas cristalinas que fazem uso. Outras
pela falta destes, mantém pelo menos seus poços protegidos de contaminação.
São tantos os detalhes importantes para um simples banho
ritualístico que se formos levar ao pé da letra todas as determinações iremos
nos desmotivar ao compará-lo a nossas casas dentro de cidades cada dia mais
cheias de arranha-céus.
Quando digo que nosso culto anda mais para um folclore do
que uma religião, não o faço em desmerecer o chão que pisei e da água que me
banhei e sim de um alerta, um sacode, para que façamos o máximo de esforço em
manter a tradição, pois sem ela iremos fadar a igrejas de 4 paredes.
Separei então algumas ervas para começarmos, mas entendam
que cada casa terá sua preferência, e seu método de mistura das ervas, como
digo, quando pedimos “sopa” temos de informar qual delas, pois há diversas e
todas de bom sabor.
Minha casa tinha o costume de além do Omi Eró (Kijauá) que
volta e meia mudava-se as ervas (de 7 em 7 dias) ainda preparar para os dias de
gira mais 4 porrões (com apenas 3 ervas cada, perfazendo um total de 7) com
outras ervas (em minha casa eram apenas 4 ervas, baseada na fundamentação Bantu
e nos ciclos lunares que são 4 mas que se manifestam em 28 dias com cada fase
tendo uma duração de 7 dias) diferentes separadas para os Òrìsà, Vodun e
Jinkisi Funfun, para as Ìyábà e Oboró (nome este de origem Fon relacionado a
serpente, símbolo fálico).
O 4º porrão todos devem estar se perguntando, rssssssss, bem
o segredo o beiço não vai revelar mas posso dizer que era para os famosos
“kiumbas”.
Logo entendemos que além do preparo básico ainda havia o
outro que completaria o Omi Eró para os Òrìsà brancos, para os femininos e para
os masculinos. Isso não deve ser visto como uma obrigatoriedade e sim apenas
uma tradição de cada casa.
Um Omi Eró feito de forma equilibrada e bem preparado pode
servir a quase todos os Òrìsà.
Na dúvida faça sempre tudo para Òsàálà.
Mas aqui trarei uma oferta de quem tem sua Nzo mas coloca
muito do fundamento Yorùbá. Logo preparei uma lista com 8.
Nome Yorùbá: Pèrègún – Pèrègún lese
Nome Bantu: Poko Nkosi, Maza Mueki
Nome Científico: Dracena fragrans (L.) Ker Gawl., Agavaceae
Nome Popular: Coqueiro-de-vênus, Nativo, Pau d'água
Compartimento: Terra
Categoria: Masculino
Classificação: Gún
2 – EWÉ ÈTÌPÓNOLÁ
Nome Yorùbá: Ètìpónolá
Nome Bantu: Kankianamena, Tululu ia Sanji
Nome Científico: Boerhavia diffusa L., Nyctaginaceae
Nome Popular: Erva-tostão, Barriguinho, Pega-pinto,
Solidônia e Tangaracá
Compartimento: Fogo
Categoria: Masculino
Classificação: Gún
3 – EWÉ RÍNRÍN
Nome Yorùbá: Rínrín
Nome Bantu : Kuxima, Muxima Nkulu, Muxima Nzambi
Nome Científico: Peperomia pellucida
Nome Popular: Erva de Jaboti, Coraçãozinho
Compartimento: Água
Categoria: Feminino
Classificação: Èró
4 – EWÉ TÈTÈRÈGÚN
Nome Yorùbá: Tètèrègún, Tètèègúndò
Nome Bantu: Muenge-Mujolo, Mueki Rizanga
Nome Científico: Costus spicatus
Nome Popular: Sangoloro, Caatinga, cana-branca,
cana-de-macaco, jacuanga, canarana-do-brejo, cana-do-brejo, pacová,
cana-do-mato, jacuacanga, paco-caatinga, periná, ubacaia, ubacayá
Compartimento: Terra
Categoria: Masculino
Classificação: Gún
5 – EWÉ IYÁ
Nome Yorùbá: Ewé Iyá
Nome Bantu: Kisaba Manhi
Nome Científico: Piper umbellatum L.
Nome Popular: Pariparoba, caapeba, capeba-do-mato, catajé,
malvaísco, capeba-verdadeira
Compartimento: Água
Categoria: Feminino
Classificação: Èró
6 – EWÉ GBÒRÒ AYABA
Nome Yorùbá: Gbòrò Ayaba
Nome Bantu :Mubange Kaia (recebe este nome pelos Nganga
exatamente por causar força na luta quando fumada com outras ervas) Obs: É uma
erva psicotrópica.
Nome Científico: Canavalia rosea
Nome Popular: Feijão da praia, feijão de fogo
Compartimento: Terra
Categoria: Feminino
Classificação: Èró
Obs: Vale lembrar e chamar a atenção que esta planta é
apenas usada em banhos e jamais deve ser usada de forma contrária. Altamente
alucinógena, pode causar morte instantânea por parada respiratória e conflitos
mentais. Infelizmente ela já é produzida “legalmente” e faz parte de uma
mistura mortal alucinógena em Hamburgo, substituindo o ecstasy e a Cocaína com
o nome de SPICE. Quando digo LEGALMENTE não significa que eu seja fomentador de
seu uso e sim de saber que não há especificações nas “Leis” que a coloquem como
ILEGAL.
7 – EWÉ WÉRÉNJÉJÉ
Nome Yorùbá: Wérénjéjé, Owérénjéjé
Nome Bantu : Nfingu, Nsala-Bamboko
Nome Científico: Abrus precatorius L., Leguminosae,
Papilionoideae
Nome Popular: Olhos-de-cabra, Olhos-de-pombo,
Cipó-de-alcaçus, Fruta-de-conta, Jiquiriri, Tentinho, Tento
Compartimento: Terra
Categoria: Masculino
Classificação: Gún
8 – EWÉ ÀBÁMODÁ
Nome Yorùbá – EWÉ ÀBÁMODÁ
Nome Bantu - JIMBONGO
Nome Científico: Bryophyllum pinnatum (Lam.) Oken.,
Crassulaceae
Nome Popular: Folha-da-fortuna, fortuna,
milagre-de-são-joaquim
Compartimento: Água
Categoria: Feminino
Classificação: Èró
Todas as pesquisas foram realizadas e conferidas nos
documentos botânicos disponibilizados pela BHL (Biodiversity Heritage Library –
www. Biodiversitylibrary.org) em 07 de Janeiro de 2012.
Vale lembrar que muitas ervas não são nativas ou comuns,
porém muitos terreiros as tem por presentes de mudas ou por viagens a África
como o caso da “Abrus precatorius”, nativa da Indonésia.
(Texto e pesquisa por Cláudio Kambami-RJ)
(Texto e pesquisa por Cláudio Kambami-RJ)
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