quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Entidade Tintura número 5 "Loiro claro"

Ola,

Uma pergunta que vem acompanhando os meus pensamentos desde que ela foi formulada em um fórum de Umbanda, a qual acredito ter sido feita até de forma ingênua, mas que cabe respaldo, é a seguinte:
"Salve o Anjo de Guarda de todos, gostaria de saber se a Pomba-Gira Maria Mulambo da Encruzilhada do Cemitério é loira?
Por favor, me tirem está dúvida.
Desde já agradeço."

Certamente se feita em uma reunião em um terreiro, em dias de "estudo", seria motivos de muitos risinhos e desdenhos, porém vamos ser razoáveis, afinal quem já não quis saber se os Anjos são macho ou fêmea?

vamos as preliminares:

"Maria Padilha, talvez a mais popular Pombagira, é considerada espírito de uma
mulher muito bonita, branca, sedutora, e que em vida teria sido prostituta grã-fina ou influente
cortesã. A escritora Marlyse Meyer publicou em 1993 seu interessante livro Maria Padilha e
toda sua quadrilha, contando a história de uma amante de Pedro I (1334-1369), rei de Castela, a
qual se chamava Maria Padilha. Seguindo uma pista da historiadora Laura Mello e Souza (1986),
Meyer vasculha o Romancero General de romances castellanos anteriores ao siglo XVIII, depois
documentos da Inquisição, construindo a trajetória de aventuras e feitiçaria de uma tal de Dona
Maria Padilha e toda a sua quadrilha, de Montalvan a Beja, de Beja a Angola, de Angola a Recife
e de Recife para os terreiros de São Paulo e de todo o Brasil. O livro é uma construção literária
baseada em fatos documentais no que diz respeito à personagem histórica ibérica e em
concepções míticas sobre a Padilha afro-brasileira. Evidentemente não encontra provas, e nem
pretende encontrá-las, de que uma é a outra. Talvez um avatar imaginário, isto sim. E que pode,
quem sabe, vir a ser, um dia, incorporado à mitologia umbandista.
Autores umbandistas, muitas vezes, conforme suas palavras, orientados pelas próprias
entidades, publicam ricas e imaginosas biografias de Pombagira. Assim, Maria Molambo, uma
Pombagira que sempre se veste de trapos, teria sido, no final do período Colonial no Brasil, a
noiva prometida a um influente herdeiro patriarcal e que, apaixonada por outro homem, com ele
fugiu de Alagoas para Pernambuco. Foram perseguidos incansavelmente pela família ultrajada e
desejosa de vingança e encontrados três anos e meio depois. O jovem amante foi morto e ela
levada de volta ao pai que cuspiu em seu rosto e a expulsou de casa para sempre. Como tinha
uma filha pequena, a quem devia sustentar, Rosa Maria, este era seu nome, submeteu-se a
trabalhar em casa de parentes na cidade de Olinda. Com a morte da filha, de novo viu-se na rua,
prostituindo-se para sobreviver. Tuberculosa e abandonada, foi enfim buscada por parentes para
receber a herança deixada pelos pais mortos. Rica, teria então se dedicado à caridade até sua
morte, quando então, no outro mundo, conheceu Maria Padilha e entrou para a linha das
Pombagiras (Omolubá, 1990).
"

Pombagira e as faces inconfessas do Brasil
Reginaldo Prandi
Do livro de Reginaldo Prandi, Herdeiras do Axé.
São Paulo, Hucitec, 1996, Capítulo IV, pp. 139-164
.

Bom, tirando como base as criações mitológicas dos arquétipos de umbanda, pelo ponto de vista antropológico, e pelo ponto de vista da narrativa de muitas entidades em terreiros, bastando apenas ir até a página 4 do google para pinçar narrativas em fóruns de relatos, considerando que as entidades são representações e manifestações de nossa ancestralidade nacional, não só afro e parda mas branca e amarela, podemos considerar que uma entidade pode ter sido "loira" quando viva, e ter ainda em suas reminiciências aspectos relativos a arquitetura do corpo humano, na dita "mecanização ritual".

É comum ouvirmos dentro do mundo umbandista narrativas feitas por médiuns que o caboclo "deixou " em sua cabeça ser "alto, forte, viril", ou "meu preto velho é caolho e tem barba rala", ou "o erê/criança que recebo é pretinho, gorducho e não tem os dedos"...

Se usarmos a psicologia para justificar, podemos até ir até certo ponto, pela teoria da esquizofrenia, porém quem é esquizofrênico é 24 horas por dia, e na umbanda, temos um processo de multi-facetas personais durante certo tempo controlado, com alterações de comportamentos, voz, fisionomia, que os próprios psicologos não ousam adentrar mais a fundo para explicar as transformações, dado a modificações no cérebro que surgem do nada e desaparecem da mesma forma, diferente da doença em que os vestígios e lesões ficam permanentes, em estado de latência.

Concluindo até aqui então,sem que seja um ponto final a questão, POMBA GIRA pode SER LOIRA, assim como PODE SER NEGRA, MULATA,PARDA,CIGANA, INDIA.

A cautela entretanto é que os tais ditos dados pelas entidades, até de forma velada ao médium, que não venham a servir para que sejam transformados em adornos ostencivos e ostentativos.Uma coisa seria até então, o que acho peculiar e natural, dada a situação do terreiro , o uso de cocares, fitas ou até vestimentas diferenciadas, o que vemos muito em fotos na internet.
Porém, quando não há entidade na guarida, nenhuma roupagem será eficiente, nem mesmo pintando o cabelo de loira.

Abraços cordiais