segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os Gêmeos na visão Banta

Ola, dando continuidade a respeito dos "gêmeos", mais um pouco de material do Cláudio.

Os Gêmeos na visão Banta

  

África não é só Yorùbá nem somente Nigéria, África é Continente onde a aranha que a teceu deixou pontas da teia nos seus extremos.

Não podemos afirmar nada dentro da cultura africana, mesmo por que ela em si manteve migrações de grupos de um canto ao outro já que as tribos sempre procuravam por locais melhores assim como os Gnus atravessam grandes extensões em busca de pastagem.

Supõem-se então que dificilmente não houve aculturação entre eles mesmos.

Iremos então perceber que as informações que nos chegaram é que, guardadas as diferenças, são muito similares em relação ao trato de gêmeos e sua importância.

Os gêmeos da mesma forma que na cultura Yorùbá estão ligados ao a crenças tanto de perigo como de satisfação.
Podemos perceber a descrição feita sobre os Abiku na cultura Yorùbá e similarmente ao Uafu zá-kuíza na cultura Banta.

O que seria o Uafu zá-kuíza?

Ele é o “vai-e-vem da morte” e assim como na outra cultura está ligado sempre ao vento, ao sopro, ao elemento Ar, pois é dele que se entende a vida.

Uafu zá-kuíza esta ligado ao Nkisi Kitembu, pois é dele que se observam as tendências do que seja bom ou ruim. Os caminhos.



Na cultura Bantu, entendemos a palavra “Ere” (espírito infantil) como CAFIOTO e nada tem em relação com os Gêmeos Kabasa e Kakulu (Os Suku na cultura Bantu) que também tem relação com o Deus Suku Nzambi (segundo, PEPETELA).

Estes de fato são observados como uma benção vinda dos céus, e seu povo os trata com uma satisfação muito grande e desconfiada ao mesmo tempo, pois terão de verificar se houve penetração dos espíritos que se escondem nos troncos da floresta (Mpaku).

Sabendo-se que é a Floresta o mais temível desconhecido desses povos, eles sempre esperam de tudo em relação a ela.

Algumas tribos bantas acreditam que um homem não pode ter gerado em uma mulher dois seres, logo crêem eles serem obras de um espírito chamado Mulunji Mujimu.

Tudo dentro da cutlura Bantu vem relacionado ao Muxima (coração) que para eles é de vital importância, pois creem que uma pessoa de boa cabeça pode ser influenciada e se perder, porem uma pessoa de bom coração (Muxima Puena) nunca.

Os Bantu diferentes de muitas outras culturas africanas, crêem somente na reencarnação de crianças e nunca de pessoas velhas.



Um velho para eles é alguém que já trilhou o conhecimento, já aprendeu tudo que deveria e chegou a esta idade por manter um Muxima Puema intacto.

Uma criança porém, passará por todas as provações que a vida irá lhe impor e nesse percurso, mesmo cientes de terem nascidos bons, poderão se perder na caminhada.

Toda criança quando nasce recebe logo amuletos de Mafú/Mukundus e etc... (Mpemba sagradas) e Kapuri, fetiches elaborados pelo Nganga que devem permanecer presos aos tornozelos e pescoço dos mesmos até que atinjam uma idade de compreensão.

É quando começam a receber os ensinamentos dos mais velhos e dali se verifica se seguem bem ou se são rebeldes.
Muitas vezes ao perceberem a rebeldia ou o descaso em cumprir as determinações acabam por prejudicar a família que é orientada a sair da aldeia.

Algumas tribos também nesse caso realizam de imediato o infanticídio, sendo que o respeito do enterro é preservado já que necessitam e querem ter esta criança de volta sem problemas.

Vale lembrar que para algumas dessas tribos a situação "gêmea" é vista como um mesmo ser que se divide em dois corpos não importando também a diferenciação sexual, como podemos perceber nessa escultura abaixo onde tentam representar não o corpo e sim o espírito duplo.






Por esse motivo ela é enterrada em volta da casa abaixo da goteira do telhado, pois poderá receber a água e brotar como uma semente bem alimentada. (Renascer em um outro corpo mais forte), pois ao morrerem Kitembu lhe retira o Mukua (O hálito quente da vida) e o leva para Nzambi trazer a outra semente que brote, reencarnação.

Ainda assim seu corpo deve estar com a cabeça para o nascente do Sol e os pés para o poente, diferente dos adultos que são enterrados com a cabeça para o poente e os pés para o nascente já que por terem trilhado uma vida merecem descanso ao lado de Nzambi. (Seria Nzambi uma variação de Amon-Rá dos Egípcios?)

Diferente do Kulunji (Inteligência) e do Ku Mukutu (Corpo) que desaparecem e apodrecem tomando parte de seu dono Ntoto (a terra).

Obs: Ntoto – Terra mineral
Ixi – Terra Planeta


Há a crença de que quando a mulher está menstruada, seu corpo está aberto e é nesse caso que crêem que os Mulunji Mujimu saem das tocas (Mpaku) e se adentram ao útero da mulher prenha se instalando no corpo do feto.
Estes espíritos “ruins” para eles têm a forma de um homem adulto, mas com a estatura pequena como um bebe daí sua facilidade em penetrar na mulher.



Outra confusão que é percebida no Candomblé brasileiro é a comparação de Nvunji com os Erês quando no entendimento da cultura Nvunji é um Nkisi da justiça e por ser justo e está ligado a toda essa concepção de Kitembo, que já descrevi aqui narrando a Lenda do reino de Matamba, que estão sempre junto as crianças que ficaram órfãs.

(Peguem a lenda abaixo).

Entende-se então que na crença Bantu o coração é a coisa mais importante num ser e estes estarão sempre na aldeia de Nzambi (Sanzala kasembe dia Nzambi) , enquanto os que demonstram maldade (Uaiba Muxima) poderão ser resgatados para uma nova oportunidade ou permanecerem no erro e ficarem presos a Sociedade de Dianda onde permanecerão como Ufunje criando um circulo contínuo de aborto (Uafu zá-kuíza), pois nunca conseguem passar do tempo de gestação caso não aceitem um novo pacto.

Para a correção de tal acontecimento muitas vezes o Nganga é chamado para verificar nos oráculos (Ngombo) a solução onde sempre estarão presentes também outros sacerdotes como o Kimbanda o Tata Unsaba, dentre outros e para firmar com o novo espírito um novo pacto para que permaneça na Terra e aprenda.






Para tal são elaborados dentre muitas coisas (já descritas acima) os chamados encantos.

Bem minha intenção não é aprofundar no tema e sim dar alguns esclarecimentos sobre cada cultura e suas visões sobre o tema gêmeo.

Este trabalho de pesquisa elaborei exatamente para tentar dar um pouco de cultura aos meus irmãos/ãs que praticam o chamado Candomblé de Angola/Kongo e direcioná-los aos significados de cada ato e cada descrição dessa cultura perdida, costurando uma coisa a outra e dando embasamento para os muitos porquês que chegam dos Munzenzas.

Kamoxi ionene kandandu ua kioso, ku polo ia Nzambi eme ki ngi mutu ami.
(Um grande abraço a todos vocês, diante de Deus não sou ninguém.)

Nganga Kambami, ni ndonda.

Esta matéria é arquivo antigo do antigo (http://fotolog.terra.com.br/kambami) que deixou de existir desde 2008. Lembro ainda que é apenas uma concepção rápida e que o universo Bantu é de uma riqueza muito grande.



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UM CONTO DA LINDA HISTÓRIA DE KITEMBU
Por – Cláudio El-Jabel (Kambami)



Estamos no reino de Matamba um dos maiores reinos existentes na antiga Áfrika.
Segundo o Dr. Virgilio Coelho, Vice-Ministro da cultura de Angola” palestra em 04/03/2005 baseada em seu livro (COELHO, Virgilio – A Historiografia sobre o “Reino do Ndòngò” no contexto da História de Angola, pagina 271). Diz-nos então, “Tal processo de unificação se desdobrou na região de Mátàmba, onde num tempo diferente se iniciaria a dispersão de linhagens provocada pela inexistência de espaços para a prática da agricultura”.
É nesse reino onde a governante uma mulher de fibra, uma guerreira como nenhuma outra foi que ocorre toda esta história, onde a briga de poder revela-se na verdade a briga pelo amor e arrebata todo um reino de deuses para que o conflito tenha um desfecho de equilíbrio e um final feliz.
Baseado nesse estudo, resolvi escrever o que me veio ao coração e pela experiência vivida dentro da cultura a qual nasci, Candomblé de Angola, mesmo tendo como iniciador um Bokunon/Vodunsi que por ordem escrita da Mameto Kuenda Legi deveria ele ser o responsável pelo ritual de sua passagem.
Com ele aprendi sobre as 3 Nações do Candomblé e acabei por receber obrigações iniciáticas em todas, logo, me permito brincar com a história e criar uma lenda não na intenção de manchar a mesma e sim de mantê-la viva, nem que seja aos corações.
“KILUMBU KIMOSI”
( “ERA UMA VEZ”... POIS É ASSIM QUE TODA HISTÓRIA DEVE COMEÇAR)
Diz uma lenda que Kitembu gostava de virar o tempo apenas para ver Matamba soprar seu vento. Na verdade Kitembu era apaixonado por Matamba, porém ambos orgulhosos de si não prestavam atenção em seus “muximas” (corações) e cada qual lutava para ser mais poderoso que o outro.
Matamba porém estava apenas fazendo um charme, feminina e vaidosa, adorava ser cortejada mais sem dar muita atenção acaba por ferir os sentimentos de Kitembu.
Matamba cuidava de seu reino e detinha uma força descomunal uma verdadeira rainha e não se curva a Kitembu que enfurecido por não conseguir a sua atenção, resolve ir embora e sair das terras de Matamba.
O dia amanhece e ao perceber a falta de seu amado sem ter com ele conversado fica enfurecida e procura sem sucesso Kitembu por todo o canto de seu reino.
Matamba então achando que ele poderia estar escondido pela floresta resolve soprar seu vento o mais forte que consegue e com essa atitude de cólera, Matamba acaba por derrubar toda a floresta de suas terras fazendo com que as plantas se curvem e quebrem, os animais que dela dependem, saiam também das terras a procura de outras florestas.
A terra torna-se árida em plantas e bichos, um verdadeiro deserto e por sua fúria descabida, trás a seu povo a fome e a miséria.
Nkosi que a tudo observa da montanha, desce para saber o que houve e ao avistar Matamba, pergunta-lhe o que está ocorrendo em suas terras.
Matamba meio sem graça diz que tudo é por causa de Kitembu que foi embora sem nem mesmo avisá-la e conta para Nkosi de seu amor a Kitembu.
Nkosi como o grande protetor diz que irá ajudá-la procurando Kitembu e trazendo-o de volta, mais como se fazia noite e a pressa era primordial para evitar mais sofrimento aos humanos, Nkosi chama para ajudá-lo Nzazi para que com seus raios ilumine o caminho dando condições de Nkosi seguir viajem a procura de Kitembu.
Ninguém no mundo era mais rápido que Nkosi, pois conhecia todos os caminhos e valia-se do poder da transformação, podendo transforma-se em um Leão e obter maior velocidade ainda.
Assim Nzazi o faz, começa com uma tempestade de raios tão intensa que toda terra de Matamba se ilumina.
Dia e Noite Nkosi segue a trilha deixada por Kitembu em suas passagens, até que o encontra.
Percebendo a tristeza do amigo chega-se devagar e conversa, dizendo que tudo não passou de um mal entendido e que Matamba por ele nutre muito amor, porém não omite que pela atitude de ambos culminaram em um estrago de proporções catastróficas, matando toda floresta e criando desespero e fome entre animais e humanos.
Kitembu volta de certa forma furioso, pois não pensou no mal que sua atitude poderia trazer as pessoas, mas contente por saber que Matamba por ele sente algo.
Ao chegar no local e verificar tanto estrago, Kitembo determina que para salvar o local, haveria a necessidade da união de todos, pois o trabalho era por demais devastador.
Assim o fizeram, todos os Jinkisi se apresentam e em reunião decidem como fazer a terra voltar ao seu estado e as pessoas voltarem para ela.
Katende traz as sementes das ervas e plantas que morreram para repovoar a floresta, Kabila se encarrega de formar os rebanhos e guiá-los de volta as terras, Angorô se encarrega de transportar a água para as nuvens, Nzazi junto a Matamba ajuda a fazê-las cair, Mpambu Njila, fica nos caminhos para ajudar a guiar os que estão voltando, Mutakalambu trás de volta as abelhas para ajudar a polimerização das novas plantas que surgem, Ndanda Lunda se encarrega de reconstruir os rios e cachoeiras, Kaia, pede as Kiandas suas primas para que empurrem os peixes do mar de volta aos rios, Nsumbu se encarrega de tratar dos desfalecidos e cansados pela fome, servindo-lhes na folha de mamona várias iguarias, e assim se segue com outros Jinkisis, cada qual fazendo sua parte e ajudando a remontar as terras de Matamba.
Porém a tragédia foi tão grande que muitos que voltaram eram crianças e não sabiam bem o que deveriam fazer, não sabiam caçar, nem pescar, não sabiam lidar com madeira, não sabiam cultivar, teriam que aprender e rápido, para que o grande criador Nzambi Mpungu, não chamassem a todos para o duílo (Céu) de volta.
Por mais que trabalhassem colocando os Nvunji com as crianças, Nzambi veio a saber da tragédia.
Nzambi desce até o Ixi (Terra), para se ter com os Jinkisi, convoca-os para uma reunião para dar sua determinação.
Após acertarem detalhes, Nzambi parte para o duílo outra vez deixando suas pegadas em uma das rochas ainda quente da reconstrução, pois de tantos raios que Nzazi mandou acabou por esquentar o local a tal ponto que até as rochas derreteram.
Após a determinação dada por Nzambi, o reino de Matamba é dividido em nove aldeias e cada qual irá cultuar agora seu próprio Nkisi evitando assim a catástrofe repetir.
Kitembu providencia algo para relembrar a força da união, pede a Katende que traga para ele uma determinada semente, e planta ela informando que será um símbolo seu e de Matamba.
Essa semente é tão especial que cresce rápida uma ao lado da outra, porém não é nenhuma árvore como todos pensavam.
Eles perguntam a Kitembu que porcaria de semente é aquela que não dá frutos para matar a fome do povo, enfim...
Kitembu ri, e diz, este é o Bambu é o símbolo da união, cada gomo dele representa um de vocês, e ele será o símbolo de nossa Nação, com ele o povo poderá construir casas rapidamente, construir móveis para suas casas, construir ferramentas e material de caça, como o arco e fecha, a lança, vara de pescar e pulsares de pescas, tochas para iluminação, ponte para atravessar os rios ou mesmos barcos, poderá fazer seus utensílios domésticos como colheres, pratos, copos, poderá criar cercas, pra manter seu rebanho longe dos perigos da floresta, cestos, esteiras, e ainda as mulheres poderão fazer suas pulseiras e ficarem bonitas além de brinquedos para estas crianças.
Ele é fácil de ser manuseado, e terá a representação do poder de vida e de morte, pois nem mesmo com a pior das tempestades ele irá quebrar, ele simplesmente se curva e flexível não quebra.
Matamba deixará nele sempre as oferendas para aqueles que morreram, e será responsável por aliviar seus sofrimentos.
Todas as aldeias que participavam também dessa reunião de apresentação, adoraram o Bambu.
Satisfeitos por tanta sabedoria e presteza de todos os Jinkisi, mas principalmente pela inteligência de Kitembu, em sua homenagem para que ele sempre saiba onde eles estão, usam o Bambu mais alto para por uma bandeira branca e rezam para Kitembu, para que sempre os guiem em direções boas.
Hoje sabemos que o Bambu é uma “madeira” ecologicamente correta, pois não é necessária a destruição da natureza para se ter grandes quantidades de Bambu.
Ele é de fácil plantio e cresce numa velocidade veloz, serve realmente para tudo. É reconhecido como o aço vegetal por sua força em estruturas.
Assim os ekanda Bantu nunca mais passaram por desespero, pois podem contar que estão sempre sendo observados por Kitembu.
Kitembu/Tembu ê. Nzala Tembu!




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